Poesia.

“Tenho saudades das tuas palavras bonitas! Daquelas que me deixavas em papelinhos espalhados pela casa!”, diz ele, entre sorrisos que bailam naqueles olhos azuis. “Deixa de ser tonto! Continuo a dizer-te essas mesmas palavras. Mas deixo-te as em sussurros todas as noites”, revolta-se ela com carinho enquanto se mantém aninhada como um gato no seu leito, ouvindo a chuva lá fora. “Não quero saber”. Fala enquanto brinca com os cabelos da companheira naquele vício que nunca perdeu. “ Os teus bilhetes eram especiais. Fazem-me acreditar que por momentos não pensaste em mais nada do que em mim, em nós, no nosso amor! Gosto dos teus papelinhos! Ponto! Também tenho direito às minhas birras”, solta ele numa gargalhada tão típica em todos os momentos mais sérios. Ela levanta a cabeça, “quem sabe não terás uma surpresa”, e deposita-lhe suavemente um beijo nos lábios que por ela chamam…


Perdem-se nos teus traços fortes
As forças que me restam seguindo
O caminho desenhado pelas minhas mãos
Perde-se na tua doçura
A loucura sã que dança nos meus lábios

Pegando na sua caneta, escreve, reescreve, toca versos, traça frases. Era mesmo tonto! Como não percebia que os pequenos poemas que antes lhe deixava estavam em todos os seus actos. Era ele a poesia. Se poesia era coração, era ele que a fazia perder a razão! As palavras estavam gastas, os verbos vazios de sentido. A tinta da caneta precisava de ser quente como o seu sangue, doce com o seu corpo. Não lhe chegaria toda a sabedoria do mundo para pôr em todas as letras todos os sentimentos, todos os momentos, todos os sentidos. Já tinha sido capaz, mas agora todas as folhas lhe pareciam demasiado pequenas para deixar lá os riscos maiores da sua vida. Mas ia-lhe fazer a surpresa! E dentro de um pequeno envelope deixa-lhe o seu melhor poema… Amo-te!”


Malae


[Simples palavras não dizem o que nos vai na alma. Frases que ganham forma mas que parecem sempre insuficientes. Páginas de rabiscos sem o sentido certo. Tanta vontade de dizer tudo que parece que temos apenas mãos cheias de nada. Como se tivéssemos o mundo no coração, mas não o conseguíssemos partilhar.]

(Devaneio antigo, mas nunca postado!)




[O tempo voa, passa, deixa as suar marcas! Tanto que muda. Tanto que fica. Tanto que nunca se explica. Tanto que se gostava de guardar numa gaveta a sete chaves, deitando-a depois naquele rio cheio das lágrimas que teimosas caem! Tanto que se quer esquecer. Tanto! Tanto! Hoje, hoje era bom que as memórias não existissem!]

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