Timor.

Dizem que a praia da Areia Branca é a mais bonita do Mundo. Que naquele poiso tocado pelos deuses da Natureza se vê o pôr-do-sol mais laranja dos quatro cantos do planeta. Diz, no entanto, quem já a pisou que não esquece o "vermelho" da água e da areia. Resquícios das milhares de vidas roubadas nas pontadas das armas e das baionetas inimigas. Daqueles que combateram pela liberdade, pelo sonho, pela independência. Os homens e mulheres que viram pela última vez a cor do mundo nas falésias daquela encosta.
Aquela praia guarda segredos e desejos. É percorrida por milhares de pés descalços que voam em objectivos que tardam em concretizar-se. Pequenas vidas ainda sem noção do Mundo, que sedento e lá tão distante, espera um pequeno passo para voltar a dominar e mandar. Sorrisos gratuitos e lágrimas constantes, numa mistura que começa a ser explosiva.
As armas, contra irmãos e não contra o inimigo "vermelho e branco", saltam dos baús e aterrorizam quem antes se escondia debaixo da mesma cama. Ataques, assaltos, banhos de sangue de quem tanto passou. Escolhas de quem recorre ao passado para lutar por um futuro que nunca conseguiu desenhar. Sortilégios finais da solidariedade esquecida, de rios de lágrimas de amizade que uniam a ilha do crocodilo.
A esperança encravada em balas perdidas nos palácios reduzidos a cinzas, apelos lançados ao coração de um homem que sonha em tirar fotografias e ser feliz. Pegar pela mão os pequenos filhos e ensiná-los a amar a terra quente que lhe custou a sabedoria da vida.
Uma pequena nação perdida num mundo de promessas, sonhos desfeitos, sussurros, esquecimento e solidão. Um pequeno povo prestes a enfrentar uma luta fratricida, um ajuste de contas com o destino, que ninguém quer escrever. Rostos que esquecem o coração gigante que transportam, cedendo à tortura fácil de quem maneja a (falta) de razão. A lenda do crocodilo presa no som estridente da arma de um major.

Protege-te! Cuida de ti! A dobrar.

Ha'u hadomi o, Timor!

Malae






Que o caminho certo se continue a desenhar na areia branca.









Por momentos.



[Hoje tiveste[-me n]o mundo da palma da tua mão. Se a tivesses fechado tudo poderia acontecer. Ainda que apenas por momentos. Na palma da tua mão.Malae]






“E agora, claro, já passaram seis anos... Nunca tinha contado esta história. Os camaradas que me voltaram a ver ficaram contentes por me voltarem a ver vivo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço...
Agora já estou um pouco consolado. Quer dizer… não de todo. Mas sei muito bem que ele voltou ao seu planeta porque, ao nascer do dia, não encontrei o seu corpo. Não era um corpo assim tão pesado... E à noite gosto de ouvir as estrelas. São como quinhentos milhões de guizos...
Mas a verdade é que se passa uma coisa extraordinária. Esqueci-me de acrescentar a correia de couro ao açaimo que desenhei para o principezinho. Ele nunca terá podido colocá-la na ovelha. Então pergunto a mim próprio: "O que terá acontecido no seu planeta? Talvez a ovelha tenha comido a flor…”
Umas vezes digo para mim próprio: “ De certeza que não! O principezinho fecha a sua flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem a sua ovelha..." Então, eu sinto-me feliz. E todas as estrelas riem suavemente.
Outras vezes digo para comigo: "Acaba-se por ter uma distracção de vez em quando, e isso é quanto basta. Esqueceu-se, uma noite, da redoma de vidro, ou então a ovelha saiu durante a noite sem fazer qualquer ruído…” Então, todos os guizos se transformam em lágrimas...
É um mistério muito grande. Para vocês, que também gostam do principezinho, tal como para mim, nada no universo é igual, se nalgum lado, não se sabe onde, uma ovelha que não conhecemos, comeu ou não comeu uma rosa…
Olhem o céu. Perguntem a vocês mesmo: A ovelha comeu ou não comeu a flor? E verão como tudo se altera… Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente...
E nenhuma pessoa crescida compreenderá nunca como isso pode ter tanta importância!”

[O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry]



[Estrelas. Pontos no escuro repletos de dons, caminhos, sonhos. Pequenas luzes repletas de significado e de precisão. Gosto das estrelas. Muito. De as ver, de as ouvir, de lhes falar. Não é para compreender. Gosto. E aprendi-o. São a salvação de noites longas, entrando pela janela aberta e brilhando em sinal de esperança. São testemunhas silenciosas de lágrimas e sorrisos. São a doce compensação de dias intermináveis. Gosto de as procurar nos dias nublados, ver o seu aparecer fosco, mas sempre presente. Gosto de descobrir aquelas que mais brilham, perceber onde estão, seguir o seu destino. Gosto de escutar as palavras sábias que ditam sem palavras. Gosto. E aprendi-o. Confio nas estrelas. Na sua sensibilidade, no seu bom-senso, na sua estima. Sei que nos guiam, nos ensinam, nos ajudam. Que ouvem os desabafos em todos os gestos do quotidiano. Que pincelam os nossos sonhos com cores de ouro. Vejo nelas as longas jornadas que se percorreram e aquelas que ainda não estão escritas. No seu infinito, mostram-nos a Vida, a força que devemos ter e iluminam o caminho a seguir. Elas, as estrelas, estão sempre lá… no caminho lácteo de um destino que elas também trilham. Olhem as estrelas e sorriam! O vosso caminho ainda agora começou! E elas, as estrelas, estão com vocês! Porque ele é luminoso e grande! Malae]


[Á Rainbowzinha! Ao Padrinho!]

Sentidos.



Sentidos.
Rabiscos do ser
Na ânsia do futuro.
Percepções ínfimas
De constelações de momentos.
Rios de caminho
Navegados no infinito.
Aguarelas coloridas
De lágrimas perdidas.
Sorrisos ardentes
De paixões fugidas.
Palavras sumidas
No traço de um céu.
Instantes vividos
No carrossel sem destino.
Sentidos.


[Ao Padrinho. Um beijo.]

Malae



Sonho.



Sonho.

[Agora que o sol brilha no teu lado... tenho mesmo saudades!mm.Malae]